sábado, 21 de maio de 2016

Educação Bancária






A Concepção Bancária da Educação como Instrumento de Opressão

                                                                                                                                                Paulo Freire*



Quanto mais analisamos as relações educador-educandos, na escola, em qualquer de seus níveis (ou fora dela), parece que mais nos podemos convencer de que estas relações apresentam um caráter especial e marcante - o de serem relações fundamentalmente narradoras, dissertadoras

Narração de conteúdos que, por isto mesmo, tendem a petrificar-se ou a fazer-se algo quase morto, sejam valores ou dimensões concretas da realidade. Narração ou dissertação que implica um sujeito - o narrador - e objetos pacientes, ouvintes - os educandos.

Há uma quase enfermidade da narração. A tônica da educação é preponderantemente esta - narrar, sempre narrar.

Falar da realidade como algo parado, estático, compartimentado e bem-comportado, quando não falar ou dissertar sobre algo completamente alheio à experiência existencial dos educandos vem sendo, realmente, a suprema inquietação desta educação. A sua irrefreada ânsia. Nela, o educador aparece como seu indiscutível agente, como o seu real sujeito, cuja tarefa indeclinável é "encher" os educandos dos conteúdos de sua narração. Conteúdos que são retalhos da realidade desconectados da totalidade em que se engendram e em cuja visão ganhariam significação. A palavra, nestas dissertações, se esvazia da dimensão concreta que devia ter ou se transforma em palavra oca, em verbosidade alienada e alienante. Daí que seja mais som que significação e, assim, melhor seria não dizê-Ia.

Por isto mesmo é que uma das características desta educação dissertadora é a "sonoridade" da palavra e não sua força transformadora. Quatro vezes quatro, dezesseis; Pará, capital Belém, que o educando fixa, memoriza, repete, sem perceber o que realmente significa quatro vezes quatro. O que verdadeiramente significa capital, na afirmação, Pará, capital Belém. Belém para o Pará e Pará para o Brasil.

A narração, de que o educador é o sujeito, conduz os educandos à memorização mecânica do conteúdo narrado. Mais ainda, a narração os transforma em "vasilhas", em recipientes a serem "enchidos" pelo educador. Quanto mais vá "enchendo" os recipientes com seus "depósitos", tanto melhor educador será. Quanto mais se deixem docilmente "encher", tanto melhores educandos serão.

Desta maneira, a educação se torna um ato de depositar, em que os educandos são os depositários e o educador o depositante.

Em lugar de comunicar-se, o educador faz "comunicados" e depósitos que os educandos, meras incidências, recebem pacientemente, memorizam e repetem. Eis aí a concepção "bancária" da educação, em que a única margem de ação que se oferece aos educandos é a de receberem os depósitos, guardá-los e arquivá-los. Margem para serem colecionadores ou fichadores das coisas que arquivam. No fundo, porém, os grandes arquivados são os homens, nesta (na melhor das hipóteses) equivocada concepção "bancária" da educação. Arquivados, porque, fora da busca, fora da práxis, os homens não podem ser. Educador e educandos se arquivam na medida em que, nesta distorcida visão da educação, não há criatividade, não há transformação, não há saber. Só existe saber na invenção, na reinvenção, na busca inquieta, impaciente, permanente, que os homens fazem no mundo, com o mundo e com os outros. Busca esperançosa também.

Na visão "bancária" da educação, o "saber" é uma doação dos que se julgam sábios aos que julgam nada saber. Doação que se funda numa das manifestações instrumentais da ideologia da opressão - a absolutização da ignorância, que constitui o que chamamos de alienação da ignorância, segundo a qual esta se encontra sempre no outro.

O educador, que aliena a ignorância, se mantém em posições fixas, invariáveis. Será sempre o que sabe, enquanto os educandos serão sempre os que não sabem. A rigidez destas posições nega a educação e o conhecimento como processos de busca.

O educador se põe frente aos educandos como sua antinomía necessária. Reconhece na absolutização da ignorância daqueles a razão de sua existência. Os educandos, alienados, por sua vez, à maneira do escravo na dialética hegeliana, reconhecem em sua ignorância a razão da existência do educador, mas não chegam, nem sequer ao modo do escravo naquela dialética, a descobrir-se educadores do educador.

Na verdade, como mais adiante discutiremos, a razão de ser da educação libertadora está no seu impulso inicial conciliador. Daí que tal forma de educação implique a superação da contradição educador-educandos, de tal maneira que se façam ambos, simultaneamente, educadores e educandos.

Na concepção "bancária" que estamos criticando, para a qual a educação é o ato de depositar, de transferir, de transmitir valores e conhecimentos, não se verifica nem pode verificar-se esta superação. Pelo contrário, refletindo a sociedade opressora, sendo dimensão da "cultura do silêncio", a educação "bancária" mantém e estimula a contradição.


FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997. p. 57-59.

 A Educação  Bancária está presente nos dias atuais?



Leiridjeine Leal

Infelizmente sim. Mesmo que o método pedagógico esteja evoluindo ainda há aqueles que são relutantes em abolir antigos conceitos (educação bancária), que jugam ser a forma correta de lecionar, não para manterem-se como opressores ou únicos detentores do conhecimento, mas por desinteresse ou desestímulo que é o que na maioria das vezes acontece com os professores na da rede pública, que não são valorizados.

Eu já me vi inúmeras vezes nesta situação, como aluno, decorando a matéria simplesmente falada pelo professor. É possível mudar essa situação, motivar o profissional, qualifica-lo e valoriza-lo, instigar o aluno mostrar as ferramentas, são meios para mudar essa situação, onde ambos são protagonistas do processo da construção do conhecimento.

"Ninguém educa a ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo. (Paulo Freire)".




Betânia Silva

Há muito tempo atrás avaliar significava apenas aplicar provas, dar uma nota e classificar os alunos em aprovados e reprovados.

Ainda hoje existem alguns professores que acreditam que avaliar consiste somente nesse processo. Contudo, essa visão aos poucos está sendo modificada. Avaliar funciona como um elemento de integração e motivação para o processo de ensino-aprendizagem.

O importante é entender que avaliar não consiste somente em fazer provas e dar notas, avaliar é um processo pedagógico contínuo, que ocorre dia após dia, buscando corrigir erros e construir novos conhecimentos. A avaliação é um processo que atualmente permite ao professor avaliar o desempenho do aluno fugindo da tradicional prova escrita, redirecionando o aluno para a aprendizagem, sugerindo novas formas de estudo para melhor compreensão dos assuntos abordados dentro da classe.

A memorização precisa ser compreensiva como o próprio nome indica, aquela que parte do ato de compreender.

O papel do professor nesse quadro é tentar perceber como o aluno constrói seu conhecimento e ajudá-lo nessa jornada. Não é tarefa fácil, além do que, são vários alunos em uma mesma sala de aula, mas vale tentar deste artifício para alcançar o ensino de qualidade.

Fonte: Líria Alves (graduada em Química)

Equipe Brasil Escola



 Michele Ximenes

Lendo esse texto sobre a educação bancária. Fiquei muito triste
Porque infelizmente muitos educadores utilizam esse tipo de ensino.
Onde o aluno só "aprende" aquilo que o professor quer que ele conheça.
Mesmo com tanta diversidade de pesquisas dentro e fora de sala de aula,
Muitos insistem em ensinar aquilo que é de praxe. O que está ao alcance de
Suas mãos. Talvez por falta de interesse, ou comodismo.
Os próprios alunos podem mudar essa situação, buscando novos conhecimentos,
Levando-os para a sala de aula. Assim, os professores poderão ver que os educandos,
Não "marionetes" para aprender somente aquilo que eles querem.
Janaina Oliveira

Infelizmente a educação bancária ainda é realidade em muitas escolas no dia de hoje sim! Eu tenho contato com professores tanto como colega de trabalho e recentemente como aluna de graduação e especialização e percebo claramente as diferentes formas de ensinar.
Acredito que na minha infância e parte da adolescência fui um recipiente em que os professores apenas “depositavam” os conteúdos e eu como “boa aluna” decorava tudo, tirava nota boa nas provas, passava de ano e tudo se repetia na série seguinte. Na minha época aluno não questionava. Apenas acreditávamos que os professores eram seres que detinham todo o conhecimento e não eram passíveis de erro. Se o professor disse, é porque é verdade! Mas quando entrei para o antigo segundo grau, hoje o ensino médio, tive o prazer de fazer magistério e então descobri que educação era bem diferente do que estava acostumada. Nas aulas de didática aprendemos que os alunos não têm que decorar e sim entender o que está estudando. Todo conteúdo tem que fazer parte da vivência do aluno. Eles têm que conseguir associar o que estão aprendendo com situações do dia a dia deles. Assim as aulas se tornam muito mais proveitosas, os alunos se envolvem e participam muito mais e a assimilação do conteúdo se torna natural. Mas mesmo dentro da Escola Normal encontrei professores adeptos da educação bancária. Esses professores geralmente eram das disciplinas básicas, como matemática, português, química... e dava para ver a diferença na forma de ensinar quando a aula era de matérias específicas como didática da matemática, didática geral e etc.

Muitos professores se acham os “donos do conhecimento” e se sentem ameaçados e intimidados se algum aluno começa a expor suas ideias a respeito da aula e pior ainda se for contra a opinião do professor. Não entendem que a aprendizagem é em conjunto. Todos sempre têm algo novo para passar para os outros e nós professores sempre aprendemos com nossos alunos. Eu mesma sempre aprendo com os meus. Mesmo porque a informação hoje é muito fácil e rápida, então muitas vezes eles me falam sobre alguma reportagem ou sobre alguma novidade que ainda não tive acesso; eu busco mais informações a respeito e levo para a sala complementando a aula.



Irenilda Lima

Acredito que a educação bancária é real nos dias de hoje, assim como alguns colegas relataram também passei por essa situação de ter que decorar um conteúdo para a prova ou uma apresentação, e na hora de apresentar simplesmente esquecer o que iria falar porque eu não aprendi o conteúdo apenas decorei.
Através da minha experiência escolar, percebo que realmente eu passei praticamente toda a minha vida em uma educação escolar bancaria, pois eu não sabia aprender, por mais que quisesse aprender não conseguia porque os professores não sabiam ensinar a aprender, apenas passava o conteúdo, muitas vezes mandava repetir frases várias vezes no caderno para decorar, demorei para entender o que era aprender de verdade acho que só no ensino médio compreendi a diferença entre aprender e decorar, acho que esse é o motivo pelo qual muitas vezes me pergunto o porquê não lembro de muitas coisas que estudei na escola, a resposta e simples, esqueci o que havia decorado.

Tenho três sobrinhos e meu filho que se encontram no período de educação escolar infantil ,e posso afirmar que a educação bancária está presente atualmente e principalmente na escola pública, pois vejo diferença quando tento ensinar o conteúdo para eles o que estuda em escola particular e bem mais avançado do que estuda em escola pública quando tento explicar algum conteúdo para os demais eles querem decorar, sem sequer tentar entender o que é dito ( não generalizo, pois existem escolas públicas e professores de qualidade ).

Essa educação bancária deve ser evitada, os professores devem ser motivados, pois muitos sabem ensinar, pois isso é o, mínimo que eles devem aprender durante a sua formação como educadores, o que falta e que sejam valorizados, estimulados a se dedicar em exercer o trabalho de professor, que é o de ensinar a aprender, a refletir, pensar, comunicar-se e não fazer comunicado.

Ensinar as crianças de hoje o ‘’aprender a aprender’’ para que as gerações futuras saibam ensinar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário